terça-feira, 10 de julho de 2007

Em Fórum, TVs comerciais e públicas divergem sobre TV digital

7/7/2007 23:05:00
As principais TVs comerciais e públicas brasileiras mostraram diferentes focos em encontro que discutiu as novidades da implantação do sinal digital para a televisão. O debate aconteceu na última sexta-feira, dia 6, no Rio de Janeiro, (RJ), em IV Fórum Brasileiro de TV Digital promovido pelo Instituto de Estudos de Televisão. O encontro foi marcado pela presença dos principais executivos de cada emissora, além de especialistas sobre o tema. Após aproximadas dez horas de discussão, esclareceu-se o modelo de negócios a ser escolhido pelas redes privadas. Profissionais da TV Globo, Record, SBT, Bandeirantes e Rede TV! expuseram planos semelhantes sobre a necessidade e reflexos da implantação do serviço no Brasil. Embora cada uma delas tenha apresentado diferenciais, o ponto comum fincou a preocupação em oferecer a interatividade e o benefício da alta definição em imagens, HDTV, como principais benefícios ao telespectador. Já está decidido que a data de estréia da transmissão digital no país será dia 2 de dezembro, inicialmente apenas para a cidade de São Paulo, (SP). O software adotado pelas emissoras também esteve presente no Fórum. Intitulado de Ginga, produzido por universidades nacionais, o programa foi apresentado ao público presente pelo diretor de Tecnologia da Record, José Marcelo de Amaral.

Na apresentação, as funcionalidades revelaram a possibilidade de o espectador participar de um quiz enquanto assiste a um telejornal, ou mesmo acessar o resumo dos capítulos das telenovelas, que também poderão ser acompanhadas em outro idioma. Já no futebol, o middle permite conferir a escalação do time ao mesmo tempo em que a partida acontece.A monoprogramação também obteve destaque durante as conversas entre as redes comerciais. Foi unânime a decisão anunciada de que elas apostarão na programação única de um canal, ao invés de disponibilizar várias opções simultâneas. De acordo com a diretora da Divisão de Engenharia de Transmissão e Apoio às Afiliadas da Rede Globo, Liliana Nakonechnyj, o motivo da escolha é a movido pela intenção de "primar pela qualidade na imagem" baseada na tecnologia do HD (alta definição). Apesar disso, não foi descartada a possibilidade futura de oferecer a multiprogramação futuramente. Os líderes podem cair"Apostem as fichas porque o jogo vai recomeçar". Esta foi a tônica da participação do diretor geral da Band, Frederico Nogueira, responsável por momentos de polêmica e discussões mais apimentadas. O profissional foi o único a dizer sobre a carga tributária e o valor de 55% cobrados pelo Governo por meio de impostos no processo de implantação. Além disso, Nogueira comentou sobre a novidade do canal de retorno para mensuração da audiência aos anunciantes e agências de publicidade. Nessa linha, ele afirma que as formas de veiculação publicitária serão completamente distintas das utilizadas no sinal analógico atual. Ele cita como exemplo a possibilidade do espectador adquirir produto diretamente pela TV por meio do controle remoto. "A criatividade deverá se adequar à esta nova era e os líderes podem perder seu posto na disputa", completou.

Os temas portabilidade e digitalização nortearam as apresentações do SBT e Rede TV!. O assessor do Conselho Executivo de Tecnologia da emissora de Silvio Santos, Alexandre Sano, focou a interatividade já existente entre a audiência e os programas. Sano disse que o SBT é líder em recebimento de mensagens de celulares SMS que culminam com prêmios para o telespectador. Já o superintendente de Operações da Rede TV!, Kalled Adib, preferiu dizer sobre o cotidiano da emissora, pioneira na digitalização das atividades. "Tudo é feito na era digital, desde a pauta à finalização da matéria", conta Adib. O profissional também afirmou que a fase ainda é laboratorial e, por isso, o mercado aprenderá com o tempo como atuar sob essa nova plataforma.Adib foi o único a discordar sobre o alto valor estimado para os set-top boxes, aparelhos conversores do analógico para o digital. Para ele, não há motivos para preocupação neste aspecto, pois deverá haver sintonia e bom senso entre mercado e consumidor para um acordo justo para o devido valor. Na visão dos outros executivos, o preço estimado, acima de R$ 300, é surreal se comparado à economia brasileira.

TV PúblicaA presença do assessor Especial da Secom - Secretaria de Estado de Comunicação Social -Arnaldo César, representou a posição do Governo no processo de criação da nova rede de TV pública. Apesar de existir desde meados da década de 1960, estas redes de comunicação não têm até hoje condições de sustentabilidade no mercado. Corriqueiras crises econômicas e de identidade levam muitas a encerrar suas atividades. Atualmente, existem cerca de 20 delas no Brasil. Seu objetivo principal é o foco no cidadão ao oferecer conteúdo independente e plural para formar uma melhor massa crítica. O financiamento vem do Governo Federal. Segundo César, a chegada da TV Pública não tem a pretensão de propor concorrência às emissoras privadas. A idéia é "preencher espaços deixados pelas televisões convencionais". A verba para a estruturação é de R$ 350 milhões anuais, valor similar ao orçamento comercial anual da Band, quarta maior rede de TV do Brasil. Sendo assim, a missão da TV digital assume um papel contrário ao apresentado pelas emissoras privadas. Haverá a multiprogramação em seu conteúdo focado em educação, cultura e informação, ao invés da evolução para uma ferramenta de acesso interativo. A produção de conteúdo será descentralizada, fato que garantirá a diversidade cultural. Nessa linha, foram lembrados os esforços feitos pela Ancine - Agência Nacional do Cinema - representada no Fórum por seu diretor Leopoldo Nunes. Segundo ele, a convergência de mídias e a relação mais íntima com os produtores independentes são importantes pilastras na solidificação do projeto. O IPTV, sistema que funciona como TV pela internet, é um exemplo. Graças a ele, torna-se possível a demonstração de um projeto que interliga museus espalhados pelo país e os disponibiliza na figura de acervo na Web. Marco Antônio Coelho, Relações Institucionais da Fundação Padre Anchieta/TV Cultura e a presidente da TVE Brasil, Beth Carmona, incrementaram o debate sobre a comunicação pública. Coelho falou sobre a possibilidade de o processo de transição para o digital acontecer de forma conjunta entre as redes, incluindo também a Rede Brasil.Por falta de financiamento, o novo sinal não virá em formato de alta definição, como será o das redes privadas. A verba anual da TV Cultura é de R$ 150 milhões, enquanto a TVE recebe por volta de R$ 60 milhões. Coelho lembrou que apesar de ter comercializado parte de seu conteúdo, o valor alcançado pela Cultura foi perto de 10% do total de faturamento e, portanto, não descaracteriza a condição pública de sua emissora.Entre os projetos da TVE, rede pertencente à Acerp, a chegada da digitalização deve aperfeiçoar o programa de educação à distância por meio da integração de mídias e utilização da banda larga. Também estiveram presentes no Fórum a especialista em Mídia Interativa e radialista Rosa Freitag, o jornalista Newton Cannito e o roteirista e diretor do IETV, Fernando Crócomo. Rosa mostrou um protótipo que simula interatividade no produto telenovela. O programa desenvolvido em 1995 é atual e permite ao telespectador mudar o rumo da história e alterar inclusive as opiniões e o humor dos personagens. Os outros especialistas falaram essencialmente sobre os formatos com maior probabilidade de fixação na TV digital e mudança nas formas de investimento no setor.Marcelo Gripa - Especial do Rio de Janeiro.

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