domingo, 27 de julho de 2008

Geração Digital desafia empresas

Domingo, 9 março de 2008

Comportamento da geração digital desafia empresas
Rede de amigos influencia mais o consumo dos jovens do que confiança em marcas e varejistas

Ana Paula Lacerda e Renato Cruz

Os jovens vivem em rede. A facilidade que eles têm de utilizar a tecnologia modifica seus hábitos de consumo. Quando vão às compras, são mais fiéis à indicação dos amigos do que a marcas ou redes de varejo. Pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que eles chegam a usar o celular para consultar os amigos até no momento da compra. Apesar da proximidade desses consumidores com a tecnologia, as empresas precisam tomar cuidado: jovens com perfis diferentes se relacionam de forma diversa com o mundo digital.

O estudante de fisioterapia Fernando Nascimento compra, quase que mensalmente, pela internet, miniaturas de plástico para montar. Não raro, compra também eletrônicos, DVDs ou livros em sites estrangeiros. “Em muitos casos, é mais barato importar do que comprar em lojas físicas aqui no Brasil, mesmo com todos os impostos absurdos.”

Mas Nascimento não compra nenhum tipo de comida pela internet. “Para a comida, sou meio conservador, não confio muito, não.” Aliás, confiança é o requisito básico para fazer compras pela internet. “Um site bonitinho ajuda, um preço razoável e promoções, também. Mas se não rolar confiança na loja, desencana.” O site preferido do estudante para comprar as miniaturas, por exemplo, faz a negociação por e-mail. “É muito tosco, mas sempre funcionou.” O site foi indicado por amigos.

Existem alguns mitos sobre a relação dos jovens com a tecnologia. “As empresas tratam os jovens como se fossem um enigma”, afirmou Raquel Siqueira, diretora da Ipsos Gestão do Conhecimento. “Na verdade, os anseios, desejos e valores são muito parecidos com os de outras gerações. O invólucro é diferente, mas a essência é muito parecida.”

A internet comercial chegou ao Brasil em 1995. Para quem tem 13 anos, a rede mundial sempre existiu. Para o estudo Jovens na Era Go Global - Interatividade e Interconectividade, a Ipsos ouviu jovens de 13 a 24 anos em nove áreas metropolitanas do País.

Uma das visões que não se confirmaram é que o jovem entende de tudo sobre tecnologia. “Uma mãe chamava a filha quando o computador dava pau, mas a menina não sabia resolver”, exemplificou Raquel. “Não é por ter 15 ou 16 anos que ela saberia mexer no sistema operacional.”

Cada grupo se relaciona de um jeito diferente com os eletrônicos e a internet. “Alguns jovens são mais centrados, sabem até programar. Outros usam a tecnologia para continuar, com os amigos, a fofoca que começou na escola. Não adianta uma marca que quer atingir o jovem que gosta de balada fazer uma campanha no Second Life. Esse jovem vai para a balada, não para o Second Life.”

Rogério de Paula, gerente de Pesquisas Etnográficas da Intel, também destacou essa tendência. “Um blogueiro prefere um laptop porque quer estar conectado em qualquer lugar”, exemplificou. “O gamer (que gosta de jogos) está interessado em máquinas mais rápidas, com o melhor processador que houver. Uma criança, hoje, está mais próxima de um especialista e não deve ser tratada como iniciante.”

A nova geração é multitarefa. “Os jovens consomem vários tipos de mídia ao mesmo tempo, o que é um desafio para as agências”, disse Raquel. “O consumidor mais novo é supercrítico e, se a marca faz marketing viral errado, ele a detona.”

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