Os preços dos conversores do sinal digital caíram bastante do ano passado para cá. Se em 2007 um set-top box custava pelo menos R$ 500, hoje é possível encontrar aparelhos na faixa dos R$ 300. Ainda assim, a TV digital chegou para apenas 0,5% da população brasileira desde janeiro, se nos basearmos nas expectativas de vendas de aparelhos da Eletros (associação que representa a indústria de eletrônicos). Segundo o órgão, foram vendidos cerca de 470 mil conversores até agora. E por que tão pouca gente assiste à televisão digital?
Para Valdecir Becker, diretor da ITV Produções Interativas, que desenvolve aplicações baseadas no middleware Ginga —software brasileiro produzido para a TV digital—, a principal explicação para a baixa adesão à TV digital é a ausência de conteúdo produzido para atender a nova tecnologia.
"Creio que o motivo seja o conteúdo. Além de ainda não termos interatividade, que deve começar no primeiro semestre do ano que vem, há pouco conteúdo em alta definição. Então, mesmo para quem tem condições financeiras de ter o equipamento, o investimento ainda não está valendo a pena", opina Becker, lembrando que as emissoras não são obrigadas a transmitir em sinal digital até 2013.
A Rede Globo, por exemplo, mesmo sendo a emissora líder no país, dispõe de apenas 13 horas semanais de programação em alta definição, de acordo com sua assessoria de imprensa.
Já para Walter Duran, diretor de Tecnologia da Philips para América Latina, a TV digital ainda não teve um 'boom' por outro motivo.
"A população em geral tende a ser reativa a toda introdução de produtos com tecnologia inovadora. Ela demora um tempo para reagir a essa inovação; muitas vezes reage negativamente. E não só no Brasil. Na Inglaterra e na Austrália, por exemplo, os primeiros meses da TV digital foram críticos", conta Duran, que em 1984 já estava envolvido no gerenciamento da TV em cores no Brasil.
A mesma desconfiança do consumidor, afirma ele, foi vista quando foi lançada a TV colorida, o videocassete e o DVD. "Em 1999, o primeiro ano do DVD no Brasil, todo o mercado vendeu 35 mil aparelhos, segundo números da Eletros. Ele só foi atingir a marca de 2 milhões de vendas em 2004".
PRODUÇÃO MAIS REFINADA Todos os especialistas consultados pela reportagem do UOL Tecnologia foram unânimes em dizer que a TV digital exigirá um refinamento das técnicas de produção das emissoras para atender aos padrões de alta definição de imagem. "O mundo da televisão começa a ser mais parecido com o mundo da definição de cinema", afirma José Chaves, engenheiro-técnico da TV Cultura. "Um erro no cenário, que não se percebe na televisão analógica, passa a ser visível". Assim, a produção exige maior cuidado. "Quando você passa para HD, tem que maquiar melhor, iluminar melhor, tudo tem que se fazer melhor. Os cenários não podem ter nenhum errinho", diz Carlos Fructuoso, do Fórum SBTVD.
"Os envolvidos no processo de implantação tinham a expectativa de que haveria uma grande demanda. E era o que se lia na imprensa", diz o executivo. "Eu acreditava numa demanda comedida muito relacionada ao fato de ser uma tecnologia nova".
No entanto, Walter Duran não acha que o desempenho da TV digital foi ruim em 2008. "Esse ano foi de muito sucesso. Bastante promissor para uma nova tecnologia", diz.
E a interatividade?
Assim como a fabricação de conversores equipados com o middleware Ginga, responsável por fazer o meio de campo entre o usuário e as aplicações interativas, investimentos em interatividade e multiprogramação também podem variar de emissora para emissora.
"Multiprogramação é modelo de negócio, cada emissora determina o seu. A Globo, que tem programação 'premium', jamais vai trabalhar com multiprogramação, o negócio dela é alta definição. Já a TV Senado ganha com a multiprogramação, porque pode exibir o plenário em um canal e as comissões em outro, já que quando tem CPI as comissões dão muito mais ibope que o plenário", prevê Carlos Fructuoso, integrante do Fórum SBTVD.
Emissoras já têm projetos em andamento
Quanto à interatividade, Valdecir Becker, da ITV, acredita que ela ainda irá passar pela avaliação do público antes de se tornar comum na programação aberta. "Globo e Record, principalmente, têm desenvolvido muito conteúdo interativo. A questão é se eles vão implantar o modelo que a população vai querer", diz.
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